O Sistema Plantio Direto (SPD) e a Recuperação de Pastagens Degradadas (RPD) – duas tecnologias difundidas pelo Projeto ABC Cerrado, já são realidade no Oeste da Bahia e estão sendo aprimoradas para trazer ainda mais benefícios para os produtores rurais que as utilizam. Com esse enfoque foi realizado o primeiro seminário de sensibilização do projeto na Bahia, nesta quinta-feira (24/9), no município de Barreiras.
O coordenador técnico do Projeto ABC Cerrado, Igor Orígenes Moreira Borges, apresentou a iniciativa para o público presente e alertou sobre esse ponto. Segundo ele, na região já se aplicam sistemas de produção preconizados pelo ABC Cerrado, mas essas práticas podem ser melhoradas. O evento reuniu produtores rurais, profissionais e representantes de sindicatos rurais.
“Temos grandes áreas de pastagens para recuperar e os produtores podem tirar o máximo de benefício das tecnologias existentes. No plantio direto, por exemplo, não basta intercalar lavouras de soja e milho, como acontece com frequência. É preciso fazer a devida rotação de culturas”, ressalta.
A programação do seminário também abordou as outras duas tecnologias trabalhadas dentro do projeto: Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF) e Floresta Plantada (FP). O evento mostrou a aplicabilidade das tecnologias de baixa emissão de carbono, e apresentou as vantagens dessa aplicação. Complementou o encontro uma palestra sobre opções de financiamento do Programa ABC oferecidas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com o representante do Departamento Regional Nordeste, Jose Lamartine Tavora Junior.
O coordenador regional do Projeto ABC Cerrado, Leonardo Paulino, explica que as duas principais atividades agropecuárias do Oeste da Bahia são a pecuária de corte e o cultivo de grãos. Conforme Paulino, a meta é capacitar 1.200 produtores no Estado até o final de 2017. Depois de Barreiras, serão promovidos seminários nos municípios de Wanderley, Santa Maria da Vitória e Formosa do Rio Preto.
“O produtor precisa ter noção das tecnologias do ABC Cerrado para saber como aprimorar aqueles sistemas sustentáveis que já estão sendo trabalhados. Cada propriedade é uma realidade”, observa.
Presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Barreiras (SPRB) e vice-diretor de Desenvolvimento Agropecuário da Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (FAEB), Moisés Almeida Schmidt, assegura que algumas tecnologias de ABC já estão em uso no Oeste baiano há alguns anos, especialmente em áreas de pecuária e de plantio de soja. Para ele, o ABC Cerrado contribuirá para o aprimoramento do que está sendo feito e para que os produtores aproveitem demandas específicas para a região.
“O ABC Cerrado vem para trazer benefícios, retorno em produtividade, além de oferecer uma possibilidade do produtor diversificar a sua propriedade. Um ponto importante é a adaptação de acordo com as características regionais. O plantio direto feito no sul do Brasil, por exemplo, é diferente do que é feito aqui. Temos que aproveitar o tipo de clima, solo e vegetação de cada lugar”.
Potencial para crescer
Produtor de leite em Barreiras, Ticiano Arrais Sydrião de Alencar recupera áreas da sua propriedade de 52 hectares, com pastejo rotacionado e adubação intensiva. Com uma produção média de 380 litros/dia, ele acredita que a capacitação de técnicos e a atualização dos produtores são essenciais para a região desenvolver todo o seu potencial. Alencar sugere a criação de um grupo piloto – formado por produtores e acompanhado por técnicos – para que as tecnologias sejam testadas e sirvam de modelo para o Oeste da Bahia.
“O projeto é super importante para a região. Tem um público trabalhando já, mas é preciso lapidar essas pessoas. Aumenta a produção, a eficiência e a renda dele. Para quem já está utilizando fica mais fácil enxergar isso e quem ainda não conhece pode comprar a ideia”.
Outra atividade que será beneficiada com o ABC Cerrado é a silvicultura. Adriano Cunha, que é produtor de eucalipto em São Desidério e presta serviços na área de reflorestamento, salienta que, hoje, existem 35 mil hectares plantados na região. Ele conta que há uma demanda crescente por madeira, principalmente em razão da construção de uma termoelétrica, mas que atualmente o único destino são as empresas esmagadoras de grãos.
“Temos um campo imenso para o ABC Cerrado crescer na região. A capacitação dos multiplicadores e dos produtores precisa ser bem direcionada para que os projetos sejam customizados conforme cada propriedade. Também temos que avaliar o mercado comprador dessas florestas”.
Projeto ABC Cerrado
Ação conjunta do SENAR, do Ministério da Agricultura e da Embrapa, o Projeto ABC Cerrado difunde e incentiva a adoção de práticas sustentáveis para a redução das emissões de gases de efeito estufa e sensibiliza o produtor para que ele invista na sua propriedade de forma a ter retorno econômico mantendo o meio ambiente preservado. O SENAR é responsável pela formação profissional dos produtores nas tecnologias e pela assistência técnica e gerencial de propriedades rurais, com recursos do Programa de Investimentos em Florestas (FIP, sigla em inglês) – administrados pelo Banco Mundial, que doou US$ 10,6 milhões para a execução do projeto.
O ABC Cerrado atende oito Estados do Bioma Cerrado (Goiás, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Maranhão, Bahia, Piauí, Minas Gerais e o Distrito Federal), num período de três anos, com a promoção de quatro processos tecnológicos: recuperação de pastagens degradadas, integração lavoura-pecuária-floresta, sistema plantio direto e florestas plantadas. Ao todo, 12 mil produtores rurais vão receber capacitação e, desse total, 1.600 propriedades – nos Estados de Minas Gerais, Goiás, Tocantins e Mato Grosso do Sul – receberão, também, assistência técnica.
Texto e fotos: Ascom Senar
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