Preocupados com a baixa vazão dos rios que banham a região oeste da Bahia, representantes de vários segmentos da sociedade civil, de órgãos governamentais e entidades do terceiro setor se reuniram para debater os múltiplos usos da água. Intitulado de “Uso racional dos recursos hídricos no Oeste da Bahia”, o seminário, realizado na última sexta-feira (29), no Plenário da Câmara Municipal de Barreiras, reuniu na mesma mesa ambientalistas, políticos, agricultores e pescadores da região.
Se, por um lado, o cenário atual dos rios preocupa devido ao baixo volume de água, por outro lado, dados da Agência Nacional de Águas (ANA) tranquilizam, apontando que é uma situação reversível, por se tratar de um ciclo da natureza. De acordo com registro do órgão, entre os anos de 1960 e 1964 a região atravessou o mesmo problema.
Baseado nestes dados, o diretor de Águas da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Cisino Lopes, lembrou que na ocasião ainda não havia empreendimentos agrícolas na região. “Portanto, não podemos culpar os agricultores pela baixa vazão dos rios. Pelo menos, não exclusivamente. Muitos outros fatores também interferem e a questão climática é a principal. É preciso que a população compreenda que a preservação dos mananciais hídricos é um dever de todos”, enfatizou Cisino.
Segundo ele, o agronegócio brasileiro vem sendo injustamente apontado como o vilão da escassez de hídrica. No entanto, o setor segue leis ambientais severas, as mais rigorosas do mundo, que incluem a manutenção de áreas de preservação permanente (APPs), no mínimo 20% de reserva legal e a utilização das águas dos rios e aquíferos que acontece apenas com a liberação de outorgas pelo Estado.
A afirmação foi reforçada pelo chefe regional Oeste do Instituto do Meio Ambiente e Recurso Hídrico (Inema), Saul Cavalcante, que garante que o órgão ambiental adota normas e critérios exigentes, fiscaliza e emite autos de infrações, inclusive multas, aos empreendimentos que não estão de acordo com a legislação vigente.
Além da fiscalização ostensiva, a irrigação no Oeste da Bahia representa apenas 5% de toda área cultivada na região. A tecnologia utilizada aqui também é de ponta e permite que os equipamentos de rega captem apenas a quantidade exata que a planta precisa para se desenvolver. Mesmo estando dentro da Lei, os produtores irrigantes aceitaram o pedido da Aiba e já desligaram cerca de 60% dos pivôs centrais, com o intuito de economizar água.
A medida é apenas uma das tantas adotadas pela Aiba na tentativa de amenizar os efeitos da estiagem e melhorar o cenário hídrico da região. A Associação realiza medições periódicas nos rios, a fim de acompanhar a oscilação do nível hídrico, além de recomendar os produtores a utilizarem de práticas sustentáveis em suas fazendas, como plantio direto, plantio na palha, terraceamento e bacias de contenção, tudo para garantir a infiltração das águas da chuva no solo garantindo assim a recarga do aquífero Urucuia.
“A preocupação com a água é cabível. Para nós, o prejuízo seria imenso se o quadro se agravasse, por isso trabalhamos com responsabilidade. Convido a população urbana a conhecer melhor o Cerrado. A agricultura investe, cada vez mais, em tecnologia para a sustentabilidade da produção”, afirmou o produtor Cícero Teixeira.
Para o presidente da Aiba, Júlio Cézar Busato, iniciativas como esta são louváveis, pois revelam-se oportunidades de discutir os problemas, falando de suas causas e consequências, e, ao mesmo tempo, apresentar soluções com vistas na preservação e sustentabilidade dos rios e do aquífero Urucuia.
“Tenho certeza que este é o primeiro passo para avançarmos em uma longa caminhada, pois de nada adianta ficar lamentando, mas sem qualquer embasamento científico. Precisamos é de ações concretas e eficazes, que realmente venham a monitorar e proteger os níveis de nossos rios e aquíferos, a exemplo do que já é feito nos Estados Unidos, Austrália e Israel, que monitoram e usam com eficiência os recursos hídricos que possuem. Se assim fizermos, conseguiremos garantir o abastecimento de água a todos os usuários e setores, pois estamos unidos em prol de um mesmo objetivo: manter a nossa vida e de nossos rios”, pontuou Busato.
Também participaram do evento, promovido pela Câmara e pela Prefeitura de Barreiras, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama), a União dos Municípios do Oeste da Bahia (UMOB), o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Grande, a Colônia dos Pescadores e a Organização não governamental 10Envolvimento.
Ascom Aiba
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