Informações falsas que prejudicam a imagem ambiental da atividade agropecuária brasileira estão sendo derrubadas no 8º Fórum Mundial da Água, realizado esta semana em Brasília. Especialistas, pesquisadores e representantes do setor produtivo estão provando que não são verdadeiros os conceitos como os de que a irrigação desperdiça muita água e é responsável pela crise hídrica das cidades ou que a agricultura polui os rios e prejudica a população.
“Às vezes as pessoas exageram em determinados pontos de vista, com algumas crenças. Por exemplo: de que árvores necessariamente produzem água. É bom que se diga que árvore bebe água, como qualquer outra planta. Para poder crescer e gerar biomassa é preciso de água”, disse o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Cerrados Jorge Werneck. Ele explicou que é por isso que um eucalipto – de uma floresta plantada – exige tanta água e que o mesmo ocorre com outros tipos de árvores, mesmo de as de florestas. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), por sua vez, lançou a cartilha “Fatos e Mitos” para o Fórum da Água esclarecendo conceitos que afetam negativamente a atividade rural.
“Mesmo a floresta tem uma grande dinâmica em si que acaba tirando água do solo e levando para a atmosfera. Essas coisas precisam ser estudadas com calma, com a ciência presente nesse processo”, disse o pesquisador da Embrapa. Werneck é um dos representantes do Brasil no Comitê Diretivo Internacional (CDI), instância decisória máxima das ações do Fórum. Ele participou nesta quarta-feira (21) da sessão “Agricultura e serviços ecossistêmicos: produtores rurais podem salvar rios e ainda lucrar?”.
Questionado pela revista Globo Rural se é possível “salvar rios”, Werneck argumentou, sob o foco científico: “É um pouco demais. É difícil a gente salvar rios, mas você consegue, sim, utilizar os recursos naturais de forma mais adequada para ter o mínimo impacto possível dentro dos rios e possa, assim, compartilhar essa água com mais pessoas e com o meio ambiente”. Ele disse que já existe tecnologia para alcançar esse objetivo, inclusive muitas tecnologias antigas, como o plantio direto. “A crise hídrica pode, inclusive, ter um lado positivo, de aumentar a conscientização sobre o uso racional do solo, da água. Aos poucos o Brasil tem avançado no aumento da sustentabilidade de sua agricultura”, completou.
Cada ambiente precisa ser estudado e compreendido em relação às possibilidades de atividades agrícolas e necessidades de preservação, destacou Werneck. “Nem sempre árvore vai ser adequada. Vide o Pampa, que é um ambiente que não tem árvores”, argumentou. “Outro erro é acreditar que tudo que vem de cima é acumulado pelas matas ciliares. Isso também não é verdade, pois há caminhos preferenciais. Não que as matas ciliares não sejam importantes. São superimportantes”, afirmou. O pesquisador apontou que o planejamento do uso do território e da água é fundamental, pois nem todo o uso do solo e da água para agricultura representa impacto significativo aos recursos hídricos. É preciso considerar pontos como aptidão de solos e áreas, escala, capacidade de suporte e legislação, entre outros critérios.
O Brasil tem avançado no aumento da sustentabilidade de sua agricultura
Ao se discutir biodiversidade, destacou o pesquisador da Embrapa, o estudo não pode envolver apenas a água. É preciso haver um estudo integrado do ambiente, do espaço, para garantir produção de água, produção de alimentos, fibras, energia e também a manutenção adequada da qualidade do meio ambiente. Werneck alertou que o Brasil tem, sim, condições de melhorar o uso das áreas já disponíveis para a atividade agropecuária e que a intensificação sustentável é um ponto imprescindível para equilibrar a equação entre a necessidade de conservação e de produção agropecuária. É indispensável, enfim, avançar a discussão sobre o nexo água-alimento-natureza, destacou o representante da Embrapa, deixando de lado as crenças e com forte aposta na ciência.
A CNA elaborou uma cartilha que confronta fatos e mitos que envolvem a atividade agropecuária especialmente para o 8º Fórum Mundial da Água. O primeiro mito hídrico citado na publicação é o que “70% da água no Brasil é usada para irrigação”. A cartilha esclarece a legislação brasileira (Lei nº 9433/97) deixa claro que a prioridade é garantir o abastecimento humano e sanar a sede dos animais. A CNA explica, ainda, que é exigida a manutenção de uma vazão mínima para evitar a degradação ambiental. Somente o excedente hídrico pode ser utilizado pela agropecuária.
A CNA informa também que é falsa a informação de que “pivô central gasta muita água”. A entidade explica que a irrigação oferece às plantas a quantidade ajustada e necessária de água, sem desperdício. A Confederação mostra que estão erradas as hipóteses de que a irrigação causa falta d’água nas cidades e que agricultura polui as águas que chegam aos centros urbanos.
“Se a questão é escassez, o produtor rural tem mais soluções do que problemas”, destaca o coordenador de Sustentabilidade da CNA, Nelson Ananias Filho. Ele cita a importância das fazendas na recarga de aquíferos e na formação de estoques de água, que acabam alimentando os cursos d’água. Ananias lembra que a agricultura sofre com a poluição dos rios vinda das cidades – esgoto -, pois as plantações exigem água limpa, de qualidade, para a produção de alimentos.
Fonte: Globo Rural
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