Se há 15 anos o campo conseguia produzir até 60 sacas de soja por hectare, a tecnologia que se enraizou na região Oeste da Bahia hoje consegue praticamente dobrar esse resultado. “Com o implemento da tecnologia, é possível produzir até 100 sacas por hectare. Nos últimos 15 anos, a área plantada cresceu na ordem de 200% e a produção alcançou a marca de 300%”, conta o presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Júlio Cézar Busato.
No município de Luís Eduardo Magalhães – cidade conhecida pelo plantio de culturas como algodão, soja e milho – a tecnologia não é apenas uma aliada, mas um fator determinante para o aumento dos índices de produtividade. “Usar a tecnologia ao nosso favor significa agilizar a produção, alcançar um melhor resultado da lavoura, e, consequentemente, o aumento da renda do produtor”.
Produtividade
De acordo com dados apresentados pela Aiba, o Oeste é responsável pela produção de 100% da soja da Bahia. O milho cultivado lá abastece 90% do Norte e Nordeste do país. Já o algodão da região torna a Bahia o segundo maior produtor da cultura do Brasil.
O panorama justifica o investimento que é feito pelo agricultor em tecnologia. “Ele aposta em todo um aparato para conquistar essa desenvoltura”, como explica a presidente da Associação dos Revendedores de Máquinas e Equipamentos Agrícolas do Oeste da Bahia (Assomiba), Ida Barcelos.
Não se trata apenas de plantar no período certo: “A colheita satisfatória vai depender da combinação de sementes de qualidade superior com máquinas modernas para plantar e colher, além de bons insumos agrícolas”.
Para ela, a disposição do produtor para o investimento é do tamanho do resultado que ele pretende obter. “Um problema climático interfere mais que os juros, o combate a uma determinada praga leva ele a buscar cultivares mais resistentes e melhoradas geneticamente, além de implementos que possam assegurar a desenvoltura do potencial da sua lavoura”, justifica.
O investimento mínimo em equipamentos e implementos agrícolas pode chegar a R$ 3,5 milhões. “No final das contas, se ele tiver a certeza de uma boa colheita, ele vai investir nela de qualquer jeito”.
Combate
Pragas como o bicudo do algodoeiro, a mosca branca e a helicoverpa têm tirado o sossego dos produtores, onde a tecnologia também vem sendo usada como uma arma no combate aos danos que são provocados nas plantações.
Segundo o agrônomo e coordenador do grupo técnico do Programa Fitossanitário da Bahia, Celito Breda, só a helicoverpa deu um prejuízo na ordem de R$ 1,5 bilhão, quando surgiu há três anos.
“É uma praga que ataca tanto a soja, como o milho e o algodão”, explica Breda. O impacto da praga recai sobre outro “calo” do produtor: o aumento de custos. “É o item que mais sobe. O custo para combater uma praga chega a US$ 350 dólares por hectare. Há cinco anos, a gente pagava US$ 50 dólares”.
Só na região, a iniciativa privada investe cerca de R$ 10 milhões em pesquisa por ano. “Nós temos que dar foco na prevenção e sermos mais proativos, por isso tanto investimento em pesquisas que possam buscar soluções no manejo dessas pragas”.
Após conseguir reduzir em 30% os custos com o controle da helicoverpa, o agrônomo prevê que a colheita de soja iniciada no mês passado deve perder três a quatro sacas por hectare por conta da mosca branca, inseto que impede que a planta realize a fotossíntese. “Quem subestimar ela vai perder lavoura. É o pior ano da mosca branca na nossa região”, avalia.
Melhoria genética
Para solucionar o problema, é cada vez maior a busca de alternativas de melhoramento genético das culturas, mais resistentes a condições climáticas e doenças. Em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Fundação Bahia desenvolveu recentemente duas novas espécies de cultivares de soja, que, além de resistentes a neumatoides, ainda aumentam a produtividade da lavoura.
A BRS 780 e a BRS 8280 RR são especialmente adaptadas ao bioma do cerrado típico do Oeste, que possui características naturais para o desenvolvimento de pragas.
Segundo a vice-presidente da Fundação Bahia, Zirlene Pinheiro, a intervenção científica no grão é muito mais econômica para o produtor do que a utilização de defensivos agrícolas. “A região já é muito contaminada por pragas. Se eu não plantar uma variedade que resista a isso, não tenho uma lavoura produtiva”.
Para o produtor de soja, Celito Missio, as melhores tecnologias estão nas sementes. “A qualidade fisiológica da semente precisa ser muito boa para ela formar uma lavoura bem plantada”.
Ele conta que chega a gastar R$ 120 a mais por hectare plantado, ao investir em cultivares geneticamente modificadas. A tecnologia se torna, ainda, uma vantagem competitiva. “Você pode até pagar um pouco mais caro, mas resolve o problema com uma tecnologia inteligente que te dá um retorno de qualidade melhor”, explica.
Gargalos
Mesmo com vantagens competitivas no que diz respeito a áreas disponíveis para expansão, mercado consumidor próximo, tecnologia, mais clima, solo e topografia favoráveis, o Oeste baiano ainda precisa enfrentar alguns “gargalos” para produzir.
De acordo com o presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Júlio Cézar Busato a infraestrutura para escoar produção e receber insumos, o surgimento de novas pragas e o desafio de reduzir custos ainda preocupam o produtor.
“O problema hoje na agricultura está no alto índice de custos e uma logística ineficiente que diminuem nossa vantagem competitiva diante de concorrentes como a Austrália, Estados Unidos e Argentina”. O desenvolvimento da região, como um todo, está atrelado ao agronegócio, como enfatiza Busato.“O desafio do agronegócio na região é também um desafio da cidade que acompanha esse crescimento”.
Além da “força” de São Pedro com a questão climática e a conclusão das obras da Ferrovia de Integração Oeste Leste (Fiol) e do Porto Sul, em Ilhéus, ainda é preciso mais crédito e políticas que fomentem a industrialização. “Estamos em um segmento promissor. Acreditamos primeiro na região, depois na tecnologia e no nosso trabalho”.
Fonte: Correio da Bahia
Deixe um comentário