Entre 1960 e 2015, a área irrigada no Brasil aumentou expressivamente, passando de 462 mil hectares para 6,95 milhões de hectares (Mha), e pode expandir mais 45% até 2030, atingindo 10 Mha. É o que aponta o Atlas Irrigação: Uso da Água na Agricultura Irrigada, estudo da Agência Nacional de Águas (ANA) lançado na segunda-feira (02/10) durante o IV Inovagri International Meeting, em Fortaleza.
A média de crescimento estimado corresponde a pouco mais de 200 mil hectares ao ano, enquanto o potencial efetivo de expansão da agricultura irrigada no Brasil é de 11,2 Mha. O potencial de expansão apontado acentua a necessidade de um esforço crescente de planejamento e gestão a fim de evitar ou minimizar conflitos pelo uso da água, em especial nas bacias hidrográficas que já possuem indicadores de criticidade quantitativa.
Áreas irrigadas
Com dados inéditos, o Atlas Irrigação apresenta uma retrospectiva, um panorama atual e uma visão de futuro sobre a agricultura irrigada brasileira, com foco no levantamento de áreas irrigadas, no potencial de expansão e no uso da água associado. Seus apontamentos permitem melhor atuação em áreas já consolidadas e naquelas que tendem se desenvolver mais rapidamente no horizonte considerado.
Para o superintendente de Planejamento de Recursos Hídricos da ANA, Sergio Ayrimoraes, presente na abertura do Inovagri, o lançamento do Atlas no principal evento sobre irrigação é uma marco na busca da segurança hídrica no Brasil. “Precisamos compreender a água como insumo ao desenvolvimento e não como gargalo”, disse. Segundo ele, a ANA tem trabalhado pra oferecer aos governos a base técnica que sirva de instrumento para a gestão de recursos hídricos e para a tomada de decisões.
A área atual equipada para irrigação estimada no estudo é de 6,95 milhões de hectares. Embora a atividade seja dispersa no território, o estudo identificou os principais polos e características de concentração.
Com base nas áreas atuais e projetadas para 2030, bem com o uso da água associado, foi possível estabelecer, em escala nacional, as principais áreas especiais de gestão dos recursos hídricos, subdivididas em três classes: polos consolidados com menor perspectiva de expansão, polos consolidados com maior perspectiva de expansão e polos emergentes com maior perspectiva de expansão.
Setor nacional de irrigação
O setor de irrigação é o maior e mais dinâmico uso consuntivo de água dos mananciais no Brasil e no mundo: a maior parte da água é evapotranspirada pelas plantas e solos e não retorna diretamente aos corpos hídricos em um curto espaço de tempo. Embora a expansão do setor aumente o uso da água, diversos benefícios podem ser observados, tais como a otimização do uso do solo e de insumos (máquinas, implementos, mão-de-obra etc.), o aumento e a regularidade na oferta de produtos agrícolas, o estímulo à implantação de agroindústrias e a minimização de riscos meteorológicos e climáticos.
Além disso, a irrigação, em geral, tende a ser acompanhada ou antecedida por aperfeiçoamentos em outros insumos, serviços, máquinas e implementos. De acordo com o estudo, a agricultura irrigada é responsável pela retirada de 969 mil litros de água por segundo (969 m³/s) e pelo consumo de 745 mil litros por segundo (745 m³/s).
Considerando os demais usos consuntivos, esses valores correspondem a 46% da vazão total retirada (2.105 m³/s) e a 67% da vazão de consumo (1.110 m³/s). Os números se equiparam aos dos Estados Unidos, onde 59% da vazão de retirada é para irrigação e à média global de cerca de 70% do consumo. No horizonte 2030, estima-se que a área irrigada crescerá 45%, enquanto a retirada de água deverá crescer 38%.
Análises para cada divisão
O menor crescimento do uso em relação à área deve-se à perspectiva de maior avanço de sistemas mais eficientes no uso da água, tais como a irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) e a aspersão por pivô central, que representaram 70% do incremento da área irrigada no país entre 2006 e 2016. Considerando os principais culturas irrigadas e sistemas de irrigação no Brasil, o Atlas Irrigação subdivide a agricultura irrigada em quatro grandes grupos: o arroz irrigado por inundação, a cana-de-açúcar, as demais culturas irrigadas por pivôs centrais e as demais culturas irrigadas por outros sistemas.
Para cada divisão foi usada uma estratégia de análise diferente. O arroz, que ocupa 22% da área é responsável por 37,8% do consumo da agricultura irrigada. Já a cana-de-açúcar, onde grande parte da área utiliza irrigação de salvamento (pequenas quantidades), ocupa 29% da área e consome 10,9% do total.
Sistemas de irrigação
Os pivôs centrais ocupam 20% e consomem 20,5%, enquanto as demais culturas em outros sistemas ocupam 29% e consomem 30,8% do total da irrigação. O Atlas Irrigação é o resultado do empenho da ANA em fornecer uma nova base técnica com informações relevantes sobre a agricultura irrigada brasileira na sua interface com os recursos hídricos, subsidiando tomadas de decisão com vistas à segurança hídrica e à garantia dos usos múltiplos da água.
A Política Nacional de Irrigação, (Lei nº 12.787/2013), busca, em diversos aspectos, ser compatível com a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº 9.433/1997), apesar de, esta primeira, ainda permanecer sem regulamentação. Um exemplo prático dessa compatibilidade é a definição de que os planos de irrigação sejam compatíveis com os planos de recursos hídricos.
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