Em entrevista ao CORREIO, o secretário estadual de Infraestrutura, Marcus Cavalcanti, admitiu que a região Oeste enfrenta dificuldades para continuar se desenvolvendo, mas garantiu que o governo do estado está se empenhando em resolver questões ligadas ao transporte e logística para escoamento da produção, um dos principais problemas apontados pelos produtores locais.
“A extensão territorial do Oeste é grande. É uma área que está sendo desbravada com mais intensidade nos últimos anos e por esse motivo tem menos rodovias instaladas do que outras regiões do estado”.
Para auxiliar na logística de escoamento da produção, Cavalcanti informa que diversas obras estão sendo feitas nas estradas num investimento de R$ 200 milhões. Porém, ressaltou o alto custo deste tipo de obra no Oeste.
“É uma região que precisa de estradas que suportem cargas pesadas. Lá, temos dificuldade de material de base, como o que dá suporte ao pavimento. Isso faz com que seja mais caro construir estradas no Oeste do que no semiárido da Bahia, por exemplo. No semiárido é possível restaurar um quilômetro de estrada por R$ 500 mil. No Oeste, esse custo é em torno de R$ 800 mil”, revelou o secretário.
Segundo ele, estão sendo feitas obras no trecho de Jaborandi para Correntina, que vai até Minas Gerais, além de trechos que passam por Luís Eduardo Magalhães e vão para o Tocantins, dentre outros. “Estamos reivindicando para o PAC 3 a inclusão do trecho de Mansidão para Santa Rita de Cássia. Também estamos estudando rodovias na área de Jaborandi para apoiar o polo leiteiro. No contrato, prevemos manutenção de cinco anos”.
Ainda segundo o gestor, dois aeroportos estão previstos no Plano de Aviação Regional do governo federal – o de Barreiras e o de Santa Maria da Vitória.
Os gargalos do desenvolvimento
Transporte
Pela localização distante dos grandes portos marítimos, a produção paga caro por um frete rodoviário. O transporte pela Hidrovia do São Francisco custaria 2/3 do transporte rodoviário, mas atualmente ela não está realizando o escoamento de cargas. “Para se ter uma ideia, um produtor dos EUA gasta US$ 25, para colocar uma tonelada de algodão em um navio no porto. Isto porque os produtores colocam em um trem que chega no terminal. Nós gastamos US$ 95 para colocar num caminhão e ir pra Santos. Rodovia é o transporte mais caro depois do avião”, afirma o presidente Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Júlio Cézar Busato. Ele ressalta ainda que a Bahia precisa concluir alguns projetos de infraestrutura e logística para se tornar mais competitiva. Entre eles estão a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), o Porto Sul, a Ferrovia Transnordestina até Juazeiro, a BR-020 e os trabalhos de dragagem da Hidrovia do São Francisco. “Estamos acompanhando e trabalhando junto aos ministérios da Agricultura e Transporte, além do governo da Bahia, para que todo esse processo de logística aconteça de forma rápida. Tudo isso para que o Oeste possa se tornar competitivo. Fica no mercado quem é mais competitivo. Por isso precisamos de uma logística eficaz”, concluiu.
Energia elétrica
Este é mais um dos entraves ao desenvolvimento das principais atividades econômicas do Extremo Oeste da Bahia. A rede de transmissão e distribuição de energia elétrica precisa ser ampliada para atender à demanda de novas indústrias e produtores que vêm se instalando na região. Produtores reclamam que as linhas de transmissão de energia elétrica não chegam em algumas localidades mais distantes da sede dos municípios. Em muitas, há um grande potencial para a agricultura irrigada, mas este é um trabalho que demanda energia. De acordo com o presidente da Aiba, Júlio Cézar Busato, a energia não chega a muitos lugares e há necessidade ainda da construção de novas subestações. “Estamos trabalhando isso junto ao governo e à Coelba para corrigir estas deficiências”, informou. Em outros locais, onde há energia, investidores reclamam de baixa qualidade no sistema, que oscila bastante.
Serviços
A extensão territorial da Bahia dificulta o acesso aos centros urbanos mais desenvolvidos. Mesmo instalados em microrregiões com uma ou algumas cidades-polo, os produtores reclamam que é difícil encontrar alguns serviços, como mão de obra e peças para reposição de maquinário, por exemplo. O gerente-geral da fazenda Leitíssimo, Dave Broad, ressalta algumas das principais dificuldades referentes ao setor de serviços no Oeste, tais como escolas de qualidade para atender ao contingente que passa a ocupar a região em razão dos novos empreendimentos e manutenção de máquinas utilizadas na agropecuária. “É uma região biologicamente maravilhosa, mas que impõe certos desafios”, define Broad.
Mão de obra qualificada
Esta é também uma das dificuldades do Oeste baiano. Grande parte da população no interior está alocada no setor agrícola, porém, a principal característica desta mão de obra é a baixa qualificação. Outro fator que chama atenção quanto aos trabalhadores com este perfil é que muitos se deslocam para os centros urbanos maiores ou para a capital em busca de oportunidades fora do setor agropecuário. O que se configura uma das maiores dificuldades, não apenas da Bahia, mas do Brasil como um todo, para avançar na qualificação profissional é ainda a formação básica. Em cidades do interior do estado, quase sempre é necessário treinar a mão de obra para atuar em grandes empreendimentos ou importar trabalhadores qualificados para funções técnicas e atividades específicas. Para o produtor Renato Faedo, da região de Barreiras e Luís Eduardo Magalhães, faltam pessoas com capacidade para trabalhar com a tecnologia e o maquinário utilizado na produção agropecuária. “Tem que ter, no mínimo, segundo grau para lidar com uma colheitadeira. A gente acaba tendo que treinar as pessoas e custeando esse treinamento para ter um operador mais qualificado”, afirma.
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