A integração entre tecnologia de precisão e a adoção de práticas conservacionistas é a fórmula para a produção sustentável
Com o advento da tecnologia, o homem do campo tem utilizado a modernidade a seu favor. Tratores computadorizados e máquinas de última geração compõem, hoje, o arsenal dos agricultores na hora de for marem suas lavouras. A mecanização e informatização, contudo, não se resumem apenas ao plantio e colheita, os produtores rurais têm investido cada vez mais em equipamentos que garantem informações precisas sobre clima, mercado, qualidade do solo, quantidade de água e fertilizantes a serem utilizados, entre outros subsídios que ajudam os agricultores e agrônomos a tomarem a decisão certa, no tempo certo, e, assim, diminuir custos e aumentar a produtividade nas fazendas.
O uso dessas ferramentas aliado às boas práticas, como técnicas de conservação do solo e da água, resulta em benefícios não só para o produtor rural, mas principalmente para o meio ambiente. Se produzir mais com um custo menor é bom, elevar o volume produzido e de forma sustentável é ainda melhor. É a chamada agricultura eficiente, uma realidade visível nos campos do oeste da Bahia.
Quando aqui chegaram, há pouco mais de 30 anos, os sulistas encontraram terras praticamente inférteis, e as transformaram em uma das maiores áreas produtivas do País. É aqui que está situado, por exemplo, o maior produtor de algodão, segundo maior produtor de feijão e quarto maior produtor de soja do território brasileiro. O oeste baiano tem uma agricultura variada e papel de destaque não apenas nas safras de grãos e fibra, mas também de produtos como café e mandioca, além de ser o maior produtor de frutas como banana, mamão, manga, maracujá e coco. O agronegócio é a principal atividade da região e mola propulsora da economia local.
Mas essa vocação agrícola se deve aos elevados investimentos, sobretudo na fertilização do solo e no manejo adequado do mesmo. A aplicação de fertilizantes, aquisição de equipamentos e, principalmente, a adoção de práticas conservacionistas compõem a “fórmula de sucesso” que tem garantido uma melhora significativa na qualidade das terras, aperfeiçoando o perfil do solo e transformando o cerrado em região agricultável.
Adepto às boas práticas de conservação solo, o agricultor Luiz Pradella vê, ano após ano, os resultados positivos em sua propriedade. Na fazenda, ele realiza a descompactação do solo, através do plantio direto e da rotação de cultura. Segundo ele, a combinação dessas técnicas permite a estruturação dos solos (abertura dos poros), o que ajuda na melhora do seu nível.
“Como ganho direto eu poderia citar a economia operacional, já que reduz os gastos com combustível, além da segurança de se obter uma produção média maior e mais estável, pois se tem um solo mais fértil e melhor em quantidade e perfil, comprovado por análises em laboratório”, elencou o produtor.
Sequestro de Carbono
De acordo com Pradella, além dos ganhos diretos, há incalculáveis benefícios à natureza, já que tais práticas são ambientalmente favoráveis, por conseguirem aprisionar mais dióxido de carbono na terra. “A esse processo damos o nome de sequestro de carbono (CO2), pois percebemos um acréscimo de até 0,01% de matéria orgânica ao ano no solo”, explicou.
Um estudo realizado recentemente por pesquisadores da Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob), Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e da Faculdade São Francisco de Barreiras (Fasb) comprova a tese do agricultor. A pesquisa analisou uma área de aproximadamente 1,98 milhão de hectares e o resultado desmistificou a ideia de que a agricultura é o principal contribuinte para o efeito estufa, mostrando que a atividade agrícola praticada no oeste da Bahia reduz a emissão do gás poluente, através da absorção e retenção do mesmo no solo.
Segundo o diretor de Águas e Irrigação da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), o engenheiro agrônomo José Cisino Lopes, o aprisionamento de CO2 na terra favorece as plantas para que elas tenham mais acesso à agua e aos nutrientes, uma vez que desenvolvem um sistema radicular mais forte. “Com solo de maior qualidade e raízes bem desenvolvidas e mais profundas o resultado é uma lavoura mais saudável e com uma produtividade maior. Isso é bom para o produtor e melhor ainda para o meio ambiente”, explicou.
Eficiência
O agrônomo compartilha a “fórmula da eficiência”: fazer plantio na palha, monitoramento de pragas e de doenças, terraceamento e rotação de cultura. Ele defende que estas práticas não só melhoram o solo como ajudam a deter a água da chuva, evitando, assim, o escoamento de boa parte desta água que causa erosões, além de contribuir para a recarga dos aquíferos.
“Mais recentemente os agricultores do oeste têm adotado o plantio de adubo em período seco (sem chuva), onde se coloca o adubo em linhas, e posteriormente, na época da chuva, se planta a semente na mesma linha. Isso só é possível porque os tratores são dotados de GPS, que identificam com precisão o local exato, usando sementes de altíssima qualidade, que frutificarão em sua totalidade, pois precisamos desse ganho de tempo na semeadura para garantir a boa produtividade e manter-se competitivo, já que, devido a fatores climáticos só temos uma safra por ano” explica, denominando o feito de “agricultura de precisão ou de eficiência”.
Irrigação
Ao falar em boas práticas conservacionistas, o tema logo nos remete aos recursos hídricos. Esta também é uma preocupação dos produtores rurais do oeste baiano. A fim de praticar uma agricultura sustentável, muitos irrigantes da região adquiriram as próprias estações agrometeorológicas, cuja finalidade é garantir a eficiência na irrigação. As estações automatizadas e de baixa manutenção fornecem os dados climáticos necessários que, juntamente com informações levantadas, pelo produtor, sobre o solo, a cultura e o sistema de plantio, alimentam modernos softwares de gestão de irrigação que irão auxiliar o operador a tomar decisões assertivas ao estabelecer a lâmina d’água, momento adequado e tempo de irrigação, evitando desperdício, tanto de água quanto de energia elétrica.
“São sistemas inteligentes que calculam o volume hídrico e o tempo a ser irrigado, para que não haja excessos nem uma sublâmina incapaz de atender a demanda mínima da planta, interferindo no seu desenvolvimento, ou seja, é um sistema de gerenciamento de irrigação que ajuda a minimizar as perdas hídricas”, pontuou o engenheiro agrônomo e membro do Conselho Técnico da Aiba, Orestes Mandelli.
Segundo ele, os sistemas de irrigação mais modernos podem atingir até 98% de eficiência (aproveitamento da água). Contudo, ele ratifica que uma agricultura eficiente é resultado da combinação de tecnologia e decisões humanas, como o manejo do solo, construção de curvas de nível, plantio na palha, rotação de cultura e o escalonamento do plantio.
“Escalonar as áreas de plantio em semanas diferentes, por exemplo, resulta na obtenção de plantas em diferentes fases de crescimento e demandas hídricas, o que permite otimizar a irrigação. Esse uso racional é bom para o agricultor e para os rios”, pontua.
Ascom Aiba
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